Dois grupos, múltiplas vozes e um tema: a fome. A Cia Duas de Criação, dirigida por Luciana Lyra em parceria com Viviane Madu, juntou-se ao Coletivo Cênico Joanas Incendeiam, composto pelas atrizes Beatriz Marsiglia, Camila Andrade, Juliana Mado e Letícia Leonardi, para realizar a montagem do espetáculo inédito Homens e Caranguejos, baseado no único romance do geógrafo pernambucano Josué de Castro, um estudioso de múltiplos saberes que lutou pela construção da democracia social no Brasil.
Escrito em 1966, o romance foi traduzido em várias línguas, e já foi adaptado para o teatro pela francesa Gabriele Cousin em 1969, mas nunca foi encenado e nem outra dramaturgia foi produzida em âmbito nacional, especialmente criando interfaces do texto romanceado com a realidade de comunidades existentes no Brasil contemporâneo, como é o caso desta montagem. Nesta versão teatral de Homens e Caranguejos, com dramaturgia e encenação de Luciana Lyra, a ideia não é a transposição literal do romance, mas a criação de fricções entre o universo criado por Josué e o cotidiano de duas comunidades brasileiras: a Ilha de Deus, em Recife e o Boqueirão, em São Paulo, que foram pesquisadas durante dois anos pelas atrizes-criadoras.
A trama do espetáculo gira em torno de um Menino, que chegou à cidade e aos mangues com seu Pai, fugindo da seca, depois da morte do irmão mais velho. Sua vida se divide entre trabalhar para o Padre, como catador de caranguejos, a vontade de brincar e a amizade com Cosme, um homem sábio que vive no seu mocambo com suas pernas imóveis. Cosme vê a Aldeia dos Demais, comunidade ficcional onde moram, através dos reflexos num pedaço de espelho e o mundo através dos jornais velhos do Menino. É Cosme quem fomenta no Menino certa consciência política e instiga a lutar contra o Rei Dom Agamenon pelo direito às terras da Aldeia. Atravessando o labirinto de mocambos a revolucionar, o Menino tem encontros encantados com a misteriosa negra Idalina e brinca com a morte, é o próprio Ícaro a sonhar com dias melhores.
O espetáculo Homens e Caranguejos vem sendo apoiado pelo ProAC, da Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo e estreará no dia 26 de maio, em São Paulo, dentro da Semana Homens e Caranguejos, onde, durante cinco dias, o público entrará em contato com todo o processo de criação do espetáculo, workshops e mesa redonda de discussão sobre a construção da dramaturgia e da encenação de “Homens e caranguejos”.
Homens e Caranguejos – Cenário e figurinos
O espaço cenográfico e a Indumentária em Homens e Caranguejos toma como inspiração as produções plásticas do carioca Hélio Oiticica, que faz de sua experiência nos morros e favelas do Rio de Janeiro parte da dimensão da sua obra. No tocante ao cenário, Homens e Caranguejos acontece numa espécie de conjunto de Penetráveis, termo utilizado por Oiticica para o que é chamado de “instalação” na arte contemporânea. É um espaço em forma de labirinto no qual o espectador entra e, nele, passa por experiências sensoriais referentes ao tato, olfato e audição, além da experiência visual. No contexto de Homens e Caranguejos, este conjunto de penetráveis remete ao conjunto de barracos (mocambos) do romance de Josué de Castro.
Cada casa cenográfica, neste universo, é única na sua própria cor e formato, criando uma conjunção rizomática e labiríntica, sem um tom uniforme, construído a partir de fragmentos de diversos materiais, formando uma “colcha de retalhos” de diferentes texturas. Este grande penetrável dramático possui mobilidade e esta manipulação dá-se pelas atrizes a cada movimento do espetáculo.
Como preparação corporal e aproximação ao universo pernambucano, as meninas realizaram oficina de Cavalo Marinho com a Cia. Mundu Rodá de Teatro Físico e Dança (Condado-PE). Também realizaram treinamento musical com o Mestre Nico, do Maracatu Rural Cruzeiro do Forte. Tanto o treinamento musical, quanto o treinamento corporal com Cavalo Marinho foram pesquisas constantes deste projeto.
Além desses treinamentos, diversas pesquisas teóricas relacionadas à temática do espetáculo foram realizadas, tais como: a filmografia do cineasta Glauber Rocha, a obra do artista plástico Hélio Oiticica, do músico e pensador Chico Science, dos autores Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Junior, Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro.
Evento:
O que: Homens e Caranguejos
Onde: Teatro Reynúncio Lima – UNESP
Endereço: Rua Doutor Bento Teobaldo Ferraz, 271 – Barra Funda
Telefone: (11) 3393-8546
Data: De 26 a 30 de maio
Entrada Gratuita – Capacidade: 200 Lugares
Duração: 70 min – Classificação etária: 10 anos
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