Crescem lançamentos de imóveis sem garagem na Barra Funda

Muito comuns na década de 1950, os apartamentos sem vaga na garagem voltam a despertar interesse das incorporadoras. Só no ano passado, 1.374 unidades verticais com o perfil foram lançadas na capital paulista. O número representa 3,7% do total de lançamentos, maior índice dos últimos dez anos, de acordo com dados da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp).

Se a pequena demanda por automóveis explicava a procura por esses imóveis há 60 anos, agora o motivo é outro: reduzir custos dos imóveis para enquadrá-los no Programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal.

O programa, cuja segunda edição deve ser lançada oficialmente nesta terça, em Brasília, permite a compra de imóveis residenciais com facilidades de financiamento. A participação no programa, no entanto, estabelece teto para a renda familiar dos beneficiários e para os valor dos imóveis a serem adquiridos. Em São Paulo, o valor máximo por unidade era de R$ 130 mil até 2010. Este ano, o limite foi ampliado para R$ 170 mil.

Para aproveitar as facilidades do Minha Casa, Minha Vida, as incorporadoras e vendedoras especializadas no mercado imobiliário de padrão popular abatem o preço de onde podem: reduzem a metragem dos imóveis, simplificam o acabamento – e suprimem as vagas.

De acordo com dados da Embraesp, dos 45 edifícios lançados no ano passado que se enquadravam no programa federal, 15 – ou um terço – eram compostos de unidades sem garagem.

Maurílio Scacchetti, diretor comercial da HabitCasa, confirma a tendência. “No mínimo 40% do que lançamos no Minha Casa, Minha Vida não têm vagas.” A empresa, braço popular do grupo LPS Brasil, participa da venda de 9 das 16 torres com esse perfil lançadas em 2010.

“(Tirar a vaga) É uma boa alternativa para construir empreendimentos para a fatia popular do mercado”, diz Luiz Paulo Pompéia, presidente da Embraesp. Este ano, 164 unidades de dois novos conjuntos lançados até abril não têm estacionamento.

Custo

De fato, uma vaga interfere sensivelmente no preço final de um imóvel. Segundo Scacchetti, um espaço na garagem representa de 7% a 10 % do custo de um apartamento.

“Construir no subsolo para colocar vagas para carro pode ser muito caro, o que acaba tirando o imóvel do programa”, diz Pompéia. Pensando nisso, a incorporadora Kallas lançou em dezembro um empreendimento em que apenas 50% das unidades continham espaço para automóveis.





O Vista Bela Parque Tietê, na zona leste, tem 144 apartamentos desprovidos de estacionamento. “Com vaga, não conseguiria vender por menos de R$ 130 mil”, lembra Thiago Kallas, diretor de incorporações da empresa, que ainda tem outro empreendimento do tipo na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte.

ZEIS

Em São Paulo, todos os empreendimentos sem vaga estão em Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis), previstas na lei de zoneamento da cidade.

“A grande maioria desses terrenos está na periferia, que são as zonas mais industriais, onde a prefeitura acredita que precisa de um desenvolvimento”, diz Scacchetti. Entretanto, regiões centrais, como Encontra Brás e Encontra Barra Funda, também têm Zeis. Esses terrenos são os únicos que permitem construir imóveis sem vaga, caso do edifício Vitória Pirituba, lançado em maio de 2009.

“Esse tipo de zoneamento cria um mercado distinto que possibilita que haja habitações de baixa renda”, acredita o especialista em zoneamento urbano Luiz Guilherme Castro, do Mackenzie. De acordo com incorporadoras, o perfil de compradores envolve pessoas com renda limitada ou que buscam o primeiro imóvel. “É o jovem que adquire o primeiro apartamento”, diz o diretor da HabitCasa.

A assistente de gerência de uma academia Juliana Cunha, de 29 anos, é um desses brasileiros. Com renda de R$ 3 mil, ela comprou um imóvel pelo Minha Casa, Minha Vida, no décimo andar do Barra Funda Park, empreendimento com três torres e 545 apartamentos sem vaga. Na escolha, priorizou os R$ 130 mil cobrados: “Não tinha como comprar por valores mais altos”.

Sem vaga, com carro

O analista de RH Thiago Carneiro, 28, também tem uma unidade do condomínio, e se preocupa com a ausência de espaço para automóveis: “Minha intenção é comprar um carro neste ano. Como ter automóvel e deixá-lo na rua, numa cidade como esta?”. Juliana, que já tem um veículo, diz não saber o que fazer. “Acho que vou deixá-lo na rua.”

Para Luiz Guilherme Castro, o impacto de uma vida sem carro deve ser maior para quem vive onde o transporte coletivo é deficitário. “Por outro lado, a definição dessas zonas pode criar grandes processos de segregação.”

Fonte: O Estado de S. Paulo





Deixe seu comentário